segunda-feira, novembro 15

CASTRO ALVES


     Onde estás?
      É meia-noite… e rugindo
  Passa triste a ventania,
  Como um verbo de desgraça,
  Como um grito de agonia.
  E eu digo ao vento, que passa
  Por meus cabelos fugaz:
  “Vento frio do deserto,
  Onde ela está? Longe ou perto?”
  Mas, como um hálito incerto,
  Responde-me o eco ao longe:
  “Oh! minh’amante, onde estás?. . .
       Vem! É tarde! Por que tardas?
  São horas de brando sono,
  Vem reclinar-te em meu peito
  Com teu lânguido abandono! …
  ‘Stá vazio nosso leito…
  ‘Stá vazio o mundo inteiro;
  E tu não queres qu’eu fique
  Solitário nesta vida…
  Mas por que tardas, querida?…
  Já tenho esperado assaz…
  Vem depressa, que eu deliro
  Oh! minh’amante, onde estás? …
                            [...]
Castro Alves. Espumas flutuantes.Rio de Janeiro ,
Record,1998.

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