quarta-feira, outubro 6

Texto

A contaminação do ambiente
Com a explosão demográfica dos últimos tempos, a urbanização crescente e a retração dos campos e matas, a espécie humana vem ocasionando a lenta destruição da flora e da fauna. As zonas florestais como que se encolhem sobre a superfície terrestre, ao peso do asfalto e dos blocos de concreto que proliferam no expandir das cidades. Enquanto isso, ao contrário do papel purificador do ar atmosférico desempenhado pela vegetação, o homem, com as suas máquinas, suas indústrias pesadas, suas usinas nucleares e seus veículos, contamina cada vez mais o seu ambiente.
Inúmeras pesquisas têm revelado que nas grandes metrópoles, como Los Angeles, Nova Iorque, Chicago, Detroit, Londres, Tóquio e São Paulo, o índice de poluição do ar tem aumentado assustadoramente, condicionando uma incidência cada vez maior de doenças pulmonares e sistêmicas, com a consequente diminuição do tempo de vida médio dos indivíduos. Por vezes, a ameaça à segurança das populações se torna alarmante. Foi o que aconteceu numa usina nuclear da Pensilvânia, na Ilha das Três Milhas, em 28 de março de 1978, quando teve lugar um escapamento de gases radioativos para a atmosfera e a formação de uma grande bolha de hidrogênio numa das câmaras da usina, pondo em risco a integridade dos habitantes de uma vasta área dos Estados Unidos. Durante vários dias, a opinião pública mundial se voltou para o acidente da usina de Three Miles Island. O mesmo drama ainda voltaria a se repetir, em proporções já então catastróficas, alguns anos depois, em Tchernobyl, na União Soviética.
Muitas indústrias lançam seus detritos e produtos tóxicos nos rios e mares, ocasionando a morte de peixes, de algas e do plâncton indispensável à cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos. O uso imoderado de detergentes não-biodegradáveis, isto é, que não se destroem pela ação de microrganismos, vem contaminando as águas e provocando o extermínio da flora e da fauna dos rios e mares. Isso não sucedia antes, com o uso dos sabões comuns, feitos de gordura animal ou vegetal.
Na agricultura, a utilização indiscriminada, por parte dos lavradores, de inseticidas e pesticidas extremamente tóxicos, como o DDT e o BHC, frequentemente lançados por aviões sobre as lavouras, leva à assimilação de tais produtos pelas plantas. Como estas são utilizadas na alimentação humana, transferem para o homem uma razoável quantidade, por efeito acumulativo, desses venenos.
Na poeira radioativa que existe na atmosfera, proveniente das experiências com armas estratégicas das grandes potências, encontra-se o estrôncio-90, radioisótopo cuja vida média é de aproximadamente 30 anos. Nesse período, ele se precipita para o solo, é incorporado pelas plantas, e como estas servem de pasto ao gado bovino, o elemento radioativo passa ao organismo dos animais. Através do leite, o estrôncio-90 chega ao homem. Como é um competidor do cálcio, vai-se localizar nos ossos, onde permanecerá por toda a vida do indivíduo, emitindo radiações ionizantes. Ele tem sido, por isso, incriminado como um dos fatores cancerígenos mais comuns.

José Luís Soares. *O rastro da vida*: uma pequena história de bilhões de anos. São Paulo, Moderna, 1990. p. (90-91.)

ENTENDIMENTO DO TEXTO

1. Qual a ideia central do texto ?
2. Cite alguns dos problemas ambientais de que o texto trata.
3. Onde esses problemas aparecem de forma mais aguda?
4. O texto cita um exemplo de acidente que ameaça assustadoramente a segurança das populações. Qual o acidente mencionado? Quando aconteceu e onde?
5. O texto fala ainda de uma repetição desse tipo de acidente, em outro local. Onde?
6. O progresso e a maior facilidade para a realização de tarefas domésticas trouxe um sensível prejuízo à flora e à fauna dos rios e mares. Qual o agente causador dessa agressão? Explique.
7. E na agricultura, quais os principais agentes poluidores citados no texto?
8. Um elemento poluidor é mencionado como fator altamente cancerígeno. Qual é e onde se encontra?
9.As informações do texto são baseadas em hipóteses ou em fatos reais? Justifique sua resposta.

Trabalhando com texto

Amor
Outro dia liguei o rádio e ouvi que faziam um concurso entre os ouvintes procurando uma definição para amor. As respostas eram muito ruins, até dava para se pensar que nem ouvintes nem locutores entendiam nada de amor realmente; o lugar-comum é mesmo o refúgio universal, que livra de pensar e dá, a quem o usa, a impressão de que mergulha a colher na gamela da sabedoria coletiva e comunga das verdades eternas. O que aliás pode ser verdade.
Mas a ideia de definição me ficou na cabeça e resolvi perguntar por minha conta. Tive muitas respostas. A impressão geral que me ficou do inquérito é que de amor entendem mais os velhos do que os moços, ao contrário do que seria de imaginar. E menos os profissionais que os amadores __ digo os amadores da arte de viver, propriamente, e os profissionais do ensino da vida. Vamos ver:
Dona Alda, que já fez bodas de ouro, diz que o amor é principalmente paciência. Indaguei: e tolerância? Ela disse que tolerância é apenas paciência com um pouco de antipatia. E diz que amor é também companhia e amizade. E saudade? Não, saudade não: saudade se tem das pessoas, das alegrias das coisas da mocidade, da infância dos filhos. Mas do amor? Não. Afinal, o amor não vai embora. Apenas envelhece, como a gente.
A jovem recém-casada me diz que amor é principalmente materialismo. Todos os sonhos das meninas estão errados. Aquelas coisas que se leem nos livros da Coleção das Moças, aqueles devaneios e idealismos e renúncias e purezas, está tudo errado. Quando a gente casa é que vê que o amor não passa de materialismo.
Teresinha de Jesus, às vésperas de botar no mundo o seu filho de mãe solteira, responde: "Amor”? É iludimento. No começo é dançar, tomar Coca-Cola com pinga, ganhar corte de pano e caixa de pó-de-arroz. Depois é a barriga e todo mundo apontando, e o camarada sumido".
Semana que vem vai para a maternidade. Quem quiser lhe falar de amor venha, que ela tem uma resposta. Mas impublicável.
Um senhor quarentão, bem-casado, pai de filhos: "Amor, como se entende em geral, é coisa da juventude; Depois de uma certa idade, amor é mais costume. É verdade que tem a paixão com os seus perigos. Mas você falou em amor e não em paixão, não foi?"
___ E de paixão, que me diz? __ Aí ele se fecha em copas. "Deixo isso para os jovens. Velhote apaixonado é fogo. E eu não passo de um pai de família."
A mãe da família desse senhor: "Amor? Bem, tem amor de noiva, que é quase só castelos e tolice. Tem o de jovem casada, que é também muita tolice __ mas sem castelos. Complicado com ciúme, etc., mas já inclui algum elemento mais sério. E tem o amor do casamento, que é a realidade da vida puxada a dois. Agora, o amor de mãe... Você perguntou também o amor de mãe?"
Respondi energicamente que não; amor de mãe, não. Quero saber só de amor de homem com mulher, amor propriamente dito.
Diz o solteiro, quase solteirão, que se imagina irresistível e incasável: "Amor é perigo. Só é bom com mulher sem compromissos. Com moça donzela dá em noivado, com mulher casada dá em tragédia. O melhor é amor forte e curto, que embriaga enquanto dura e não tem tempo para se complicar. Aquela história de marinheiro com um amor em cada porto tem o seu brilho, tem o seu brilho".
O pastor protestante diz que o amor é sublimar a atração entre os dois seres, é atingir a mais alta e pura das emoções. Não confundir amor com sexo! E perguntado -__ sendo assim, por que casam os pastores? Ele responde citando São Paulo: "Porque é melhor casar do que arder".
Já o padre católico não elimina o sexo do amor. Explica que, pelo contrário, o sexo, no amor, é tão importante como os seus demais componentes -- o altruísmo, a fidelidade, a capacidade de sacrifício, a ausência do egoísmo. E é tão importante que, para santificar o amor sexual __ o amor conjugal __ a Igreja o põe sob a guarda de um sacramento, o santo matrimônio. E ante a pergunta: se tudo é assim tão santo, por que os padres não casam? O padre velho não se importa com a impertinência, sorri: "Nós nos demos a um amor mais alto. Casamento, para nós, seria pior que bigamia..."
E por último tem a matrona sossegada que explica: "Amor? Amor é uma coisa que dói dentro do peito. Dói devagarinho, quentinho, confortável. É a mão que vem da cama vizinha, de noite, e segura na sua, adormecida. E você prefere ficar com o braço gelado e dormente a puxar a sua mão e cortar aquele contato, tão precioso ele é. Amor é ter medo -- medo de quase tudo -- da morte, da doença, do desencontro, da fadiga, do costume, das novidades. Amor pode ser uma rosa e pode ser um bife, um beijo, uma colher de xarope. Mas o que o amor é, principalmente, são duas pessoas neste mundo".
(Rachel de Queiroz. *O caçador de tatu*. 2. ed. São Paulo, Siciliano, 1994. p. 39-41.)

ENTENDIMENTO DO TEXTO
1. O que despertou a curiosidade da narradora, levando-a a conversar com tantas pessoas?
2. Que tipos de pessoas foram entrevistados pela narradora?
3. Na sua opinião, por que a narradora procurou ouvir pessoas tão diferentes?
4. Se você fosse entrevistado, o que diria sobre o amor?
5. Vejamos as opiniões de alguns entrevistados, em relação ao amor.
a) O que diz Dona Alda?
b) E a jovem recém-casada?
c) E o solteirão?
6. Quem disse:
a) que o amor é coisa que dói dentro do peito
b) que o amor está vinculado ao sexo?
c) que o amor é atração entre dois seres, a mais alta e pura das emoções
d) que o amor de noiva é tolice, quase só castelos?
e) que o amor é coisa da juventude?
“Amar é mudar a alma de casa” (Mario Quintana)