sábado, outubro 22


Texto
Luana

  Luana chega pé ante pé, como uma sombra, perto de Thomas.
  __ Padre, padre, tô indo embora...
  __ Pra onde, Luana? Onde você estava?
  __ Andei por aí, me escondendo. Vou pra rodoviária, dar um tempo. Não posso mais ficar aqui. O Gibi vai me achar. Não tem jeito, não. Ele vem, vai arrebentar a turma e ainda vai apagar alguém com o 38. Não dá.
  __ Luana, o que ele quer?
  Thomas intui que, por trás da tal história de paixão, Gibi queria alguma coisa.
  __ Ele diz pra todo mundo que é por causa da transa, mas não é, não. Eu sou pequena, esperta e abro um carro *assim* -- estalava os dedos -- daí ele puxa. Mas tô com medo. A barra tá pesada. Não quero mais voltar pra ele. Não quero. Tenho medo dele, que quase já me arrebentou, e da polícia.
  __Vai pra Triagem, Luana.
  __ Não, ele descobre. Tem sempre alguém lá dentro pra cantar a bola. Tenho que ficar rodando. Quando acalmar, aí eu vou.
  __ Está bem. Vou ficar de olho na Triagem pra saber de sua chegada. Aí falo com a assistente social, vou te ajudar.
  __Se alguém abrir a boca aqui, o Gibi vai me buscar até no inferno. Por enquanto, tá limpo. Falei com a Madá, o Mocotó e o Fedelho, e eles vão segurar essa. Tchau, padre. Me ajuda.
  __Está bem, Luana. E sossega, ninguém vai contar onde você está.
  Thomas sente a esperança fugir do seu espírito.
  "Como livrar essas crianças desse submundo, da violência dos adultos e protegê-las? Luana tinha só treze anos, meu Deus, e estava sendo perseguida por uma quadrilha que não lhe daria trégua. Tinha que encontrar uma forma de tirá-la de São Paulo, levá-la para alguma instituição do  interior, alertar o Juizado e denunciar Gibi. Sabia dos riscos, mas iria conseguir. Por enquanto ela se safaria, rodando para ganhar tempo. Avisaria a todos os educadores de rua, as associações, para que a menina recebesse proteção."
  Thomas segura a cabeça entre as mãos e chora em silêncio. Este era o pior Natal de sua vida. Não havia paz nem alegria. Perguntava-se como pudera, durante tantos anos, ter celebrado a missa e convivido com a família e amigos sem se inquietar com o Natal dos outros. Revê as noites na periferia, com gente pobre, boa, convivendo nos salões paroquiais para a divisão dos salgadinhos, após a Missa do Galo.
  (...)

(Leila Rentroia Iannone. *Eu gosto tanto de você*... São Paulo, Moderna, 1988. p. 26-8, Coleção Veredas.)

ENTENDIMENTO DO TEXTO
1. Quem são as principais personagens do texto?

 2. Onde e quando se passa a história?
3. O que Luana conta ao padre?
4. Por que, no final do texto, o padre diz que aquele era o pior Natal de sua vida?
5. E você, conhece algo sobre a vida dos meninos de rua? Conte o que
6. Quem é Gibi? Por que ele é um elemento perigoso?
7. De que Luana tem medo?
8. O que a garota pretende fazer para se defender?
9. Padre Thomas promete proteger a garota. De que maneira?
10. Por que ele chora?


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