sábado, outubro 22

Texto para refletir


Palavra
  As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio,conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição. Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas e para brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro. É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado para dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido. Nada é mais fúnebre do que a palavra fúnebre. Nada é mais amarelo do que o amarelo-palavra. Nada é mais concreto do que as letras c, o, n, c,
r, e, t, o, dispostas nessa ordem e ditas dessa forma, assim, concreto, e já se disse tudo, pois as palavras agem, sentem e falam por elas próprias. A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. Apalavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre.
            A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois. As palavras têm corpo e alma mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito e pronto. As palavras são sinceras, as segundas intenções são sempre das pessoas. A palavra juro não mente. A palavra mando não rouba. A palavra cor não destoa. A palavra sou não vira casaca.
            A palavra liberdade não se prende. A palavra amor não se acaba. A palavraidéia não muda. Palavras nunca mudam de idéia. Palavras sempre sabem o que querem. Quero não será desisto. Sim jamais será não. Árvore não será madeira.Lagarta não será borboleta. Felicidade não será traição. Tesão nunca será amizade.Sexta-feira não vira sábado nem depois da meia-noite. Noite nunca vai ser manhã.Um não serão dois em tempo algum. Dois não será solidão. Dor não será constantemente.
Semente nunca será flor. As palavras também têm raízes mas não se parecem com plantas, a não ser algumas delas, verde, caule, folha, gota. As células das palavras são as letras. Algumas são mais importantes do que as outras. As consoantes são um tanto insolentes. Roubam as vogais para construírem sílabas e obrigam a língua a dançar dentro. da boca. A boca abre ou fecha quando a vogal manda. As palavras fechadas nem sempre são mais tímidas. A palavra sem-vergonha está aí de prova. Prova é uma palavra difícil. Porta é uma palavra que fecha. Janela é uma palavra que abre. Entreaberto é uma palavra que vaza. Vigésimo é uma palavra bem alta. Carinho é uma palavra que falta. Miséria é uma palavra que sobra. A palavra óculos é séria. Cambalhota é uma palavra engraçada. A palavra lágrima é triste. A palavra catástrofe é trágica. A palavra súbito é rápida. Demoradamente é uma palavra lenta. Espelho é uma palavra prata. Ótimo é uma palavra ótima. Queijo é uma palavra rato. Rato é uma palavra rua.
            Existem palavras frias como mármore. Existem palavras quentes como sangue. Existem palavras mangue, caranguejo. Existem palavras lusas, Alentejo. Existem palavras itálicas, ciao. Existem palavras grandes, anticonstitucional. Existem palavras pequenas, microscópico, minúsculo, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia.
Existem palavras dia, feijoada, praia, boné, guarda-sol. Existem palavras bonitas, madrugada. Existem palavras complicadas, enigma, trigonometria, adolescente, casal.Existem palavras mágicas, shazam, abracadabra, pirlimpimpim, sim e não. Existem palavras que dispensam imagens, nunca, vazio, nada, escuridão. Existem palavras sozinhas, eu, um, apenas, sertão. Existem palavras plurais, mais, muito, coletivo, milhão. Existem palavras que são palavrão. Existem palavras pesadas, chumbo,elefante, tonelada. Existem palavras doces, goiabada, marshmallow, quindim, bombom. Existem palavras que andam, automóvel. Existem palavras imóveis, montanha.Existem palavras cariocas, Corcovado. Existem palavras completas, elas todas.
            Toda palavra tem a cara do seu significado.
            A palavra pela palavra tirando o seu significado fica estranha. Palavra, palavra,palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra,palavra, palavra, palavra, palavra não diz nada, é só letra e som.

Falcão, Adriana. Pequeno dicionário de palavras ao vento. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003, p.108-10.



Atividades
 1.Identifique se, nas frases abaixo ocorre comparação ou metáfora.
a) “A rima é como uma esperança que eternamente se renova”.(Mario Quintana)

 b)” Os pensamentos são como  os alunos: sempre conversando em voz alta,sempre fazendo algazarra.” (Érico Veríssimo)

c) “Seus olhos eram “constelações abismais girando sem parar” ( Antonio Carlos Neves)

d) “Nossa vida é um rascunho que jamais conseguiremos passar a limpo” (Mário da Silva Brito)

2. Identifique se, nas frases abaixo ocorre antítese, metonímia ou personificação. 
a) De repente do riso fez-se o pranto. 
b) A garota completava quinze primaveras. 
c) Como não se sentia mais útil, resolveu pendurar as chuteiras.
d) “As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem,”
e) Na branca areia havia manchas negras.

Texto
Luana

  Luana chega pé ante pé, como uma sombra, perto de Thomas.
  __ Padre, padre, tô indo embora...
  __ Pra onde, Luana? Onde você estava?
  __ Andei por aí, me escondendo. Vou pra rodoviária, dar um tempo. Não posso mais ficar aqui. O Gibi vai me achar. Não tem jeito, não. Ele vem, vai arrebentar a turma e ainda vai apagar alguém com o 38. Não dá.
  __ Luana, o que ele quer?
  Thomas intui que, por trás da tal história de paixão, Gibi queria alguma coisa.
  __ Ele diz pra todo mundo que é por causa da transa, mas não é, não. Eu sou pequena, esperta e abro um carro *assim* -- estalava os dedos -- daí ele puxa. Mas tô com medo. A barra tá pesada. Não quero mais voltar pra ele. Não quero. Tenho medo dele, que quase já me arrebentou, e da polícia.
  __Vai pra Triagem, Luana.
  __ Não, ele descobre. Tem sempre alguém lá dentro pra cantar a bola. Tenho que ficar rodando. Quando acalmar, aí eu vou.
  __ Está bem. Vou ficar de olho na Triagem pra saber de sua chegada. Aí falo com a assistente social, vou te ajudar.
  __Se alguém abrir a boca aqui, o Gibi vai me buscar até no inferno. Por enquanto, tá limpo. Falei com a Madá, o Mocotó e o Fedelho, e eles vão segurar essa. Tchau, padre. Me ajuda.
  __Está bem, Luana. E sossega, ninguém vai contar onde você está.
  Thomas sente a esperança fugir do seu espírito.
  "Como livrar essas crianças desse submundo, da violência dos adultos e protegê-las? Luana tinha só treze anos, meu Deus, e estava sendo perseguida por uma quadrilha que não lhe daria trégua. Tinha que encontrar uma forma de tirá-la de São Paulo, levá-la para alguma instituição do  interior, alertar o Juizado e denunciar Gibi. Sabia dos riscos, mas iria conseguir. Por enquanto ela se safaria, rodando para ganhar tempo. Avisaria a todos os educadores de rua, as associações, para que a menina recebesse proteção."
  Thomas segura a cabeça entre as mãos e chora em silêncio. Este era o pior Natal de sua vida. Não havia paz nem alegria. Perguntava-se como pudera, durante tantos anos, ter celebrado a missa e convivido com a família e amigos sem se inquietar com o Natal dos outros. Revê as noites na periferia, com gente pobre, boa, convivendo nos salões paroquiais para a divisão dos salgadinhos, após a Missa do Galo.
  (...)

(Leila Rentroia Iannone. *Eu gosto tanto de você*... São Paulo, Moderna, 1988. p. 26-8, Coleção Veredas.)

ENTENDIMENTO DO TEXTO
1. Quem são as principais personagens do texto?

 2. Onde e quando se passa a história?
3. O que Luana conta ao padre?
4. Por que, no final do texto, o padre diz que aquele era o pior Natal de sua vida?
5. E você, conhece algo sobre a vida dos meninos de rua? Conte o que
6. Quem é Gibi? Por que ele é um elemento perigoso?
7. De que Luana tem medo?
8. O que a garota pretende fazer para se defender?
9. Padre Thomas promete proteger a garota. De que maneira?
10. Por que ele chora?



A velha e os ladrões

            Era uma vez uma velha que morava nos arredores de um povoado. Uma noite estava se aquecendo junto ao fogo tendo como única companhia as chamas ardentes quando, de repente, ouviu ruídos em cima, em seu quarto. Surpresa, disse:
            - Eu diria que há ruídos lá em cima... ou será impressão minha?
            Depois, ouviu claramente passos que iam de um lado para o outro e compreendeu que se tratava de ladrões que tinham ido roubá-la. Como estava sozinha e ninguém podia ajudá-la, começou a pensar:
- O que é que eu poderia fazer para esses ladrões irem embora? Ah, já sei!
            E, decidida, dirigiu-se para o pé da escada e começou a gritar:
            -Bernardo, suba para o terraço! Maria pegue a espingarda!
-Juan, cace-o!
-E você, Pedro, bata neles!
-Ramon, conte quantos são!
Ao ouvir os gritos da velha, os ladrões se assustaram muito e disseram:
            -Olhe que não tem pouca gente nesta casa... É melhor ir embora[...]
            Mais tarde, a velha, sentada diante do fogo, começou a gargalhar... e contam que ainda continua rindo.
( Isabel Sole )

Entendendo o texto

     1. Qual é o  titulo do texto?
2. Quem é a personagem principal da história?
3.Onde se passa a história?
4.Qual foi o problema da história?
5.Como foi resolvido o problema?
      6. -Onde você acha que estavam Bernardo, Maria, Juan, Pedro e Ramón?
      7 .Por que a velha riu tanto?
      8 .O que você mais gostou no texto.Por quê?